Paula Puiupo

Úlcera (CZAP Books)

 

Quer pedir um café? Suco?

Aceito uma água com gás. Fazendo a fina.

Chiquérrima. (ao garçom) João, você ouviu a moça! Uma água com gás e pra mim um cafezinho mesmo. Obrigada. (à entrevistada) Paulinha, vou te fazer algumas perguntas desnecessárias, tudo bem?

Bora bater um papito.

Meu, que diabos aconteceu com você para fazer quadrinhos? 

Cara… Eu sempre desenhei muito. Quando eu era menor, tinha muito medo de gente e acabava ficando trancada no meu canto, desenhando o dia inteiro. Passei boa parte da minha vida em Portugal e foi lá que comecei a fazer quadrinhos de forma mais séria, quando um editor da Polvo descobriu meu Deviantart, que na época cheia de fanart de anime. E me chamou pra participar de uma antologia. Acho que eu tinha uns 13 anos… Foi aí que comecei e desde então nunca mais parei.

Treze?! Que coisinha você devia ser… Acho que eu ia ficar com vontade de ficar te apertando. (inclinando-se sobre a mesa) Vai, me diz, aqui entre nós, o que mais te deixa excitada? (as bochechas da Paula ficam levemente enrubescidas) Em uma narrativa gráfica, amor? Física ou mentalmente, tanto faz. Fique à vontade.

Olha, sinceramente, se o desenho for autêntico e carismático já tem minha atenção de cara. Também prezo muito por narrativas densas, quadrinhos que não entreguem tudo de cara, que tenham um universo ali dentro pra você analisar, sabe. Gosto muito das HQs de terror e sci-fi por causa disso. Eles exploram um universo muito próprio e misterioso, prendem a gente naquela bolha.

E não quer mais sair. Sei na pele o que é isso! E pra você, o que é mais broxante?

Uns negócio machista babaca.

Ah, mas isso não desce nem a pau! E quando digo pau, digo em todos os sentidos. (para a câmera imaginária) Meninos, não rola. Passar bem, ok. Bem longe. (à Paula) Uma vez o Rafa foi categórico, como ele sempre é, e disse que os quadrinhos NÃO são o primo pobre do cinema. Acredito que você compactue da mesma ideia. Mas diga aí um quadrinho que seria legal ver nas telonas. Vamos fazer nossos amiguinhos ganhar uma grana com a cessão de direitos autorias ou morrer tentando.

Nāo mesmoooo!!!!! No mínimo são o primo descolado que pede dinheiro emprestado.(Deisy não esconde o riso) Eu queria muito ver um remake de Tank Girl, akjhsjkfhsjfkhs. SOU DESSAS, DESCULPA. (também topo uma adaptação do Ateneu, da Mazô)

Ateneu é demais! Pô, tô tentando convida-la para um papito desses. Será que ela topa? Vou pedir mais um café. Quer mais uma água?

Quero.

João! Manda mais uma rodada “pá nóis”? Valeu! (voltando) Uma quadrinista foda (fora a Brechdel) e porquê? 

Vou citar mais de uma porque, olha, não consigo escolher, tem muitas. SHUFSUGH.

Ô se tem! Falando nisso, tu viu a lista da Aline Lemos? Muito foda! Mas continue:

Já Falei da Mazô, acho que no cenário brasileiro, o trabalho dela é o que mais me intriga.
Eu absolutamente amo o trabalho da Amanda Baeza, ela tem uma voz dentro das narrativas que ressona muito com o que vivi e tudo tem um nível de intimidade e sensibilidade tão… QUEISSO….. fico no chão. Fora o Mr. Spoqui, que é um selo lindo de zines que ela toca pra frente juntamente com os irmãos.
Também tenho um carinho especial pelo trabalho da Hetamoé, uma das integrantes do clube do inferno, um outro selo lusitano pelo qual sou apaixonada. Podia falar sobre minas da cena o dia inteiro, mas como já me prolonguei demais, vou ficar por aqui.

Nunca será demais com você. E Amanda Baeza… Casaria com ela, se ela quisesse. Com a Hetamoé também. Se bobear, até com você! (risos) Love is the air total! (risos novamente. O garçom traz a segunda rodada) Não sei se você leu o quadrinho Gosto do Cloro do Bastien Vivès…. Um casal de personagens está nadando na piscina. Tem uma cena onde ela diz algo debaixo d´água e ficamos sem saber o que ela disse. Aquilo me pegou de jeito. Existe alguma cena nos quadrinhos que vale a pena comentar aqui?

Puts… Essa é difícil…Hum… Acho que a cena de Uzumaki, quando a personagem principal precisa entrar naquele farol do cramunhão pra buscar o irmão mais novo e eles tropeçam nos corpos dos amigos dele.

Ah, essa cena é demais! Me impressionou também. Na verdade, não há nada em Uzumaki que não seja um mínimo impressionante. Vou te fazer uma pergunta indecente. Posso? Não é algo que eu queira perguntar, mas preciso seguir um roteiro. Se você fosse um personagem dos quadrinhos, quem seria? Desculpa.

Aí meu deus… Mano…. Sei lá… Acho que seria massa ser a Ed de Cowboy Bebop. Ela é bem legal.

Hahaha. Perguntinha safada, né? Imagine que você está na pele da Ed (adoro ela) e seu futuro, por algum motivo, parece desesperador. O que você gostaria de fazer exatamente agora?

Sabe aquele choro soluçado? Eu amo quando eu choro soluçado, dá uma extravasada legal.

Lava a alma. Última pergunta e prometo não te aporrinhar mais. Ao menos, não por enquanto. (piscadinha) Mas gostaria que você fosse sincera. Como foi para você ser abduzida? 

Cara, foi louco. Se tivesse choro soluçado junto seria melhor ainda.

Deisy entra em uma espécie de transe e, pasmem, começa a chorar copiosamente para surpresa da Paula que estava para pedir um sorvete de flocos.

paula

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