Flávia Yacubian

Editora da Balão Editorial

 

Quer pedir um café? Suco?

Café, puro. E uma aguinha.

Não vivo sem. (ao garçom) João, manda dois cafezinhos e uma água pra minha querida aqui. Obrigada. (à Flávia) Vou te fazer algumas perguntas desnecessárias, tudo bem?

Ué, fazer o quê.

Tanta coisa… Mas por hora vou lhe deixar sem opção, gata, e te perguntar: Que diabos aconteceu com você para fazer quadrinhos?

Não faço, só edito mesmo.

Não, sim, claro! Eu quis dizer editar… Hahhaha! É a ressaca, mulher… Vou ter que engolir o sapo, né?

Silêncio mortal. O garçom entende a deixa para entrar com o prato coberto pela tampa abaulada de alumínio.  O prato é deixado sobre a mesa para Deisy. Retira-se a tampa. Um sapo vivo e amarrado gacha no prato. Deisy tenta despertar alguma comoção em Flávia que se mantém impávida, mal pisca. Deisy não tem escapatória. Terá de engolir o sapo nojento. Mal consegue segura-lo, tamanho asco. Suas mãos tremem.. O suor escorre. A pele do sapo é fria e azeitada. Leva-o à boca. Fecha os olhos. Por algum motivo obscuro, clama por deus, por misericórdia, por Xena!!!

Uma espadada estraçalha o sapo e a mesa sob o grito feroz da grande guerreira! Sim! SIM!! Habemus Xena!! Resolvendo o assunto a seu modo, enquanto Gabrielle salpica um pó mágico sobre a Flávia que estava sob um forte encantamento do Rei Gelado. Deisy abraça os longos metros de Xena, em total comoção.

Obrigado, Xena!!! Obrigado!! Valeu aí, Gabi. Meninas, vocês são demais!!

(Xena, sorri tentando acalma-la) Dá próxima vez, peça para assarem. Vamos, Gabrielle. IRRÁAAAaa!!

(Antes de segui-la, Gabrielle sentencia) Ela vai ficar bem.

E as duas amazonas atravessam a rua, saltando carros, gritando, brandindo espadas. Deisy volta-se para Flávia, que parece até mais coradinha agora. João e outro atendente recolhe os restos da mesa. Outra mesa é posta no lugar. O café é servido.

E o que mais te deixa excitada em uma narrativa gráfica, Flávia? Física ou mentalmente, tanto faz. Fique à vontade. (assoprando o café antes do primeiro gole)

Quando a pessoa usou um recurso visual que eu olho e penso: “nunquinha na minha vida isso teria saído da minha cabeça”.(bebendo seu café)

Acontece direto comigo. E o que é mais broxante? 

O excesso de referências “disfarçadas”, quando o cara quer mostrar que entende de quadrinhos.

É, isso pega mal mesmo. Uma vez o Rafa foi categórico, como ele sempre é, e disse que os quadrinhos NÃO são o primo pobre do cinema. Acredito que você compactue da mesma ideia. Mas diga aí um quadrinho que seria legal ver nas telonas. Vamos fazer nossos amiguinhos ganhar uma grana com a cessão de direitos autorias ou morrer tentando.

Carnaval de meus demônios, do Petreca.

Excelente! Petreca é uma coisa mesmo. A gente tomou café uma vez, juntos e… deu tudo errado. Sei lá. Sabe quando você não se lembra do que aconteceu num dia depois de um certo ponto. Lembro com muita lucidez de tudo o que aconteceu até esse ponto onde ele diz algo do tipo “o tolo ganha na ironia”. Depois não lembro de mais nada. Só tenho lembranças do dia seguinte. Acordei com uma puta dor de cabeça infernal. Liguei pra ele e ele também tava com a cabeça estourando. Muito estranho… Foi muito estranho aquele dia. Bem, deixa pra lá. (suspira) Uma quadrinista foda e porquê?

A Debbie Drechsler. Ela consegue envolver você no mundo das personagens de uma forma tão íntima e densa, é muito tocante, mas sem pieguice ou intelectualismo. Sem contar a história de vida dela no movimento feminista. Ela é foda! (bebendo)

Sim! Ela é imensamente foda! Esses dias tava olhando o blog dela, umas aquarelas, meu… que coisa mais linda! Não sei se você leu o quadrinho Gosto do Cloro do Bastien Vivès…. Um casal de personagens está nadando na piscina. Tem uma cena onde ela diz algo debaixo d´água e ficamos sem saber o que ela disse. Aquilo me pegou de jeito. Existe alguma cena nos quadrinhos que vale a pena comentar aqui? (bebendo)

Não li. Gosto demais daquela cena do Asteryos quando os balões dos dois personagens se envolvem. Tão simples e tão absurdo de bom.

Eu relutei pra ler Asteryos por causa de por achar meio sistemático. Mas depois que você entende o porquê disso, meu deus… Flávia, vou te fazer uma pergunta indecente agora. Posso?

Ué, poder pode.

Não é algo que eu queira perguntar, mas preciso seguir um roteiro. Se você fosse um personagem dos quadrinhos, quem seria? Desculpa. (terminando o café)

Bom, é meio clichê, mas seria a Enid do Ghost World(terminando o café)

Amo essa mulher com todas as suas falhas… Aliás, são as falhas dela que me atraem, (uma luz teatral incide sobre a mesa) a tão grandiloquente falha humana. (fim da luz teatral) Imagine que você está na pele da Enid e, acho que vai parecer redundante isso que vou perguntar, mas… seu futuro, por algum motivo, parece desesperador. O que você gostaria de fazer exatamente agora?

É exatamente o que acontece com ela. Melhor ler pra saber. Não quero criar uma fanfic.

É vero. Última pergunta e prometo não te aporrinhar mais, Flávinha. Ao menos, não por enquanto. (piscadinha) Mas gostaria que você fosse sincera. Como foi para você ser abduzida?

“Highly unlikely but not outside the realm of extreme possibility.”

OH MY GOD!!! Obrigada pela entrevista. Aceita uma sobremesa?

Hoje não…

flavia-yacubian

2 comentários sobre “Flávia Yacubian

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